Presidente do Instituto Akatu fala sobre a importância do consumo consciente
Por Renata
Moreira*
O que é consumir
de forma consciente? Por que fazer isso? Quais ações que realmente têm efeito?
Como diminuir o desperdício? Isso é o que Hélio Mattar, diretor presidente do
Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, esclarece à Revista Shopping Centers,
da Abrasce, na entrevista a seguir.
Revista
Shopping Centers Na sua avaliação, está
havendo uma evolução em relação ao consumo consciente no mundo?
Hélio
Mattar O consumo
consciente anda de mãos dadas com a sustentabilidade. Não existe um sem o outro.
O processo de mudança de modelo de produção e consumo, que é necessário para se
chegar a uma situação de futuro sustentável, exigirá uma mudança na forma como
os bens de serviços serão oferecidos para os consumidores.
Por exemplo, já
existe no mundo o desenvolvimento de telefones celulares que podem ser chamados
de modulares, feito de pequenos blocos. Cada um tem uma função diferente:
câmera, discagem e memória. Com isso, é possível trocar apenas um bloco quando
houver uma inovação, sem ter de adquirir um novo telefone.
Isso faz com que
o aparelho seja usado por mais tempo já que as pessoas trocam rapidamente de
celular porque querem novas funcionalidades.
Revista
Shopping Centers Os países europeus saem
na frente quando se fala em consumo consciente? Por quê?
Hélio
Mattar Em alguns países europeus, como Alemanha,
Inglaterra, França, a questão da coletividade tem um grande valor - e proteger
a coletividade é a essência da sustentabilidade.
Nos países
nórdicos, a coletividade é tão acentuada que os impostos são altíssimos – os
maiores do mundo – e as pessoas não deixam de viver lá porque os impostos são
gastos pelo governo para benefício de todos.
Revista
Shopping Centers Como está o consumo
consciente no Brasil?
Hélio
Mattar Nosso consumidor exige mais das
empresas do que qualquer outro na América Latina. Por exemplo, se você perguntar
qual o papel das empresas, quase 60% dos brasileiros dizem que é atuar
decisivamente a favor da sociedade e do meio ambiente. E não há nenhum outro
consumidor na América Latina que esteja perto desse percentual. Muito
provavelmente porque o brasileiro conta com uma mídia muito ativa em
sensibilizar e mobilizar o consumidor para prestar atenção nas ações das
companhias.
Nos Estados
Unidos isso ocorre muito menos, mesmo na Europa, há menos cobertura de questões
de sustentabilidade e de responsabilidade sócio ambiental de empresas. Na
Inglaterra, praticamente um único jornal, o The Guardian, faz uma
cobertura contínua dessas questões. Enquanto que no Brasil, praticamente todos
os principais veículos abordam esses temas, em maior ou menos grau.
Revista
Shopping Centers O senhor falou sobre
os consumidores se adaptarem ao processo de produção que passa a agredir menos
o meio ambiente. Mas ocorre também o inverso? Está havendo uma cobrança por
parte dos consumidores às empresas para que sejam mais conscientes?
Hélio
Mattar As redes sociais e a internet em geral
colocam uma enorme transparência para tudo que é feito pelas empresas. É só uma
questão de tempo para saber se uma empresa fez algo certo ou errado. Saber como
o consumidor vai reagir a isso é uma segunda questão. Ele é sensível às
questões sociais e ambientais. Logo, se fica sabendo que uma empresa, por
exemplo, poluiu o meio ambiente, mais de 70% dos brasileiros dizem que deixarão
de comprar o produto daquela fabricante.
Revista
Shopping Centers:
O que leva uma pessoa a deixar de consumir de determinada empresa?
Hélio
Mattar Os principais fatores que levam alguém
a isso são propaganda enganosa e tratamento inadequado dos funcionários. Esses
dois elementos aparecem nas pesquisas desde 2000, quando começamos a
realizá-las.
Revista
Shopping Centers Quais as recomendações
para os shoppings centers colaborarem com o consumo consciente, considerando
que eles têm a relação com o consumidor final e com os lojistas?
Hélio
Mattar Hoje, 430 milhões de pessoas passam por
mês em shopping centers no Brasil. Isso é mais que duas vezes a população
brasileira. Se os shoppings fizerem campanhas para a redução do desperdício de
água e de energia elétrica, estarão prestando um serviço público imenso. Mas
também podem fazer ações que estão diretamente relacionadas ao negócio.
Na verdade, eu tenho tido uma impressão muito boa em relação ao que os shoppings já vêm fazendo. Há quem tenha substituído as válvulas de descargas pelas mais econômicas, ou mudado as torneiras por aquelas que têm temporizadores, que abrem e fecham rapidamente. Assim como a colocação de aeradores nas torneiras, pois reduzem o volume de água, mantendo o mesmo efeito na lavagem das mãos. Em termos de energia elétrica, ao construir um mall novo, o empreendedor poderia procurar fazê-lo de forma que as lojas não precisem deixar a luz acesa durante o dia, que possam usar a claridade a seu favor. Outra ação positiva é não deixar os shoppings, depois que fecham, com todas as luzes acesas. Em produtos de limpeza, poderiam fazer escolhas observando o impacto que a cadeia produtiva de produtos gera, escolhendo aqueles que causam menor impacto.
*Matéria publicada na edição 198, da revista Shopping Centers, da Abrasce